Falar sobre a morte com crianças é um dos maiores desafios emocionais para pais, cuidadores e educadores. Ao contrário do que muitos pensam, evitar o tema não protege, ao contrário, pode aumentar a confusão, o medo e a insegurança infantil.
De acordo com especialistas em psicologia do luto infantil, a melhor forma de abordar a morte com crianças é por meio da escuta ativa, linguagem clara e acolhimento emocional.
- Por que é importante falar sobre a morte com crianças?
Segundo a psicóloga e pesquisadora norte-americana Maria Nagy, crianças entre 5 e 9 anos já começam a entender que a morte é algo irreversível, embora possam ainda acreditar que seja evitável ou que não acontece com todo mundo. Ao esconder ou distorcer a realidade, o adulto pode gerar interpretações equivocadas que prejudicam o desenvolvimento emocional da criança.
- Como o cérebro infantil processa o luto?
O luto infantil se manifesta de forma intermitente e fragmentada. Crianças podem alternar entre tristeza profunda e brincadeiras, o que é normal e esperado. A depender da idade, podem também apresentar regressões comportamentais, distúrbios do sono, alterações no apetite e dificuldade de concentração.
- Estratégias para falar sobre a morte com crianças
1. Use linguagem concreta e simples
Evite eufemismos como “virou uma estrela”, “foi viajar” ou “foi dormir”. Embora bem-intencionadas, essas expressões podem causar confusão e medo, especialmente nas crianças menores. Em vez disso, use frases como:
“O vovô morreu. Isso significa que o corpo dele parou de funcionar e ele não vai mais voltar, mas a gente pode lembrar dele com muito amor.”
2. Dê espaço para perguntas (e repetições)
Crianças aprendem por repetição. Elas podem fazer a mesma pergunta várias vezes e, mesmo que isso seja doloroso para o adulto, é um processo saudável. O ideal é responder com paciência e sem rodeios, respeitando a capacidade de compreensão da faixa etária.
3. Acolha todos os sentimentos
Sentimentos como tristeza, raiva, saudade e até culpa são comuns no luto infantil. Evite minimizar (“não precisa chorar”) ou racionalizar em excesso. O acolhimento genuíno transmite segurança emocional.
4. Inclua rituais e despedidas
Se possível, permita que a criança participe de rituais simbólicos, como acender uma vela, desenhar uma lembrança ou escrever uma carta. Isso ajuda a concretizar a perda e criar sentido emocional para ela.
5. Se necessário, busque apoio psicológico
Se o luto se prolongar com intensidade ou impactar a rotina da criança de maneira grave, o acompanhamento com um psicólogo infantil pode ser essencial.
Falar sobre a morte é ensinar sobre a vida
Quando falamos com as crianças sobre a morte com honestidade, amor e escuta, estamos ensinando que a vida é feita de ciclos, perdas e transformações, e que é possível atravessar tudo isso juntos, com afeto e presença.


